O Homem que Virou Merda



A mente era assídua na sua tarefa de cagar na vida. A vida corria, rápida ante seus olhos e a mente cagava em tudo. Ficava completamente paralisado sem saber o que dizer. Sentia uma dor monótona e contínua, que lembrava uma estagnação cinza de uma tarde igual em uma cidade igual com cheiro de fumaça. A dor parecia ser um protesto da mente masoquista, o cérebro amassava-se numa agonia infinita. Não podia dizer que era enxaqueca. Sempre que ouvia de alguém a palavra enxaqueca, ficava com raiva da pessoa. Odiava a dor dos outros. Não podia ser pior do que a dor estagnante, incessante e sem graça de sua cabeça. Devia ser egoísta, não tinha certeza. Mas, pelo menos, não ficava se queixando aos outros. Tudo era infernal e ele sabia que nada tinha solução. A ansiedade era extrema de tal forma, que viver parecia impossível. Foi com esse estado de espírito que o homem foi para a festa. Queria extravasar! Bebeu umas dez latas de cerveja e tomou mais uns cinco drinks de vodca, mas não ficou bêbado. Tinha umas cartas na manga que não o deixavam ficar atordoado, mas estava louco. Já era lá pelas três da madrugada, quando viu uma mulher e decidiu fazer uma empreitada. Tava louco, então não se importava com nada que dissesse ou fizesse. Falou: Você é gostosa, adoraria bater uma punheta pensando em você. A mulher deu risada e afastou-se (uma puta escrota que tinha uma verruga bem embaixo da narina esquerda). Ele já sabia que esse seria o resultado, por isso nem ligou. O objetivo era causar um espanto inofensivo e quebrar a rotina da noite de uma maneira engraçada. Sempre fazia isso, no entanto, nunca arranjou confusão. Dizia de uma maneira tão gentil e delicada (que nem uma bicha) que, no máximo do choque, a menina (geralmente, menininha mal comida que precisa levar no rabo) daria um risinho surpreso. E nenhum marmanjo (otário, que merece morte lenta e dolorosa por meio da empalação) passando por perto atreveria-se a intervir, já que fazia uma careta insana meio sedenta por sangue (dos outros e dele próprio) se o mal-encarassem. Não queria briga mesmo. Mas se surgisse a confusão, tentaria, ao menos, liberar-se numa fúria suicida (um quilo de dinamite seria ideal). Acabar com tudo na primeira oportunidade. A vida sempre foi uma merda, continua uma merda e sempre vai ser uma merda. Essa era a sua filosofia. Portanto, não fazia nenhum sentido o sentimento de autopreservação ou qualquer coisa parecida (como o amor ao próximo, por exemplo). Era um trem desgovernado. O que ele mais queria na vida, seu único objetivo: conseguir uma arma. Era seu sonho. Pegaria o revólver, tacaria na têmpora direita e daria um tiro com a maior felicidade possível, uma felicidade inexistente que almejava encontrar nesse fatídico dia. Fora isso, não tinha sonhos e não acreditava em nada além do terror de se estar vivo num Universo selvagem, indiferente e ávido por destruição. Onde nada fazia sentido (pra se usar o mais antigo dos clichês) e onde não existia futuro, além daquele imaginado pelo ser pensante, portanto, irreal. Não conseguiu a arma. Então se jogou da merda de um prédio e virou um monte de merda estatelada no chão, feito uma disenteria humanoide constituída de miúdos, miolos, vísceras. Tudo bem amassadinho. Uma substancia pastosa de cor rosa-avermelhada. Que se foda também! Se o cara quer virar merda, deixe ele.

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