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Mostrando postagens de fevereiro, 2022

Destroçamento

Só vejo gente destroçada. Parece que o mundo é só isso. Tenho medo de andar na rua. Tenho medo de tudo. Se eu escorregar no banheiro, posso me destroçar. O destroçamento da minha mente efetiva-se gradualmente. Minha cabeça é feita de pedaço de gente. Já não fico mais tão chocado quanto ficava. Os destroços tornaram-se parte do dia a dia. Antigamente eu ficava com uma imagem na cabeça por dias a fio. Agora posso ver fotos, assistir vídeos, já não faz diferença. Quero aprender a insensibilidade e isso faz parte do meu treinamento. Parece que há uma verdade nisso. Uma verdade maior do que qualquer ensinamento religioso ou filosófico. O que resta é carne, sangue. Depois, osso. Tudo vira terra e a gente pisa em cima de tudo sem se dar conta. O choque é momentâneo, instantes depois tudo volta à rotina. O acidente para o tráfego. Uma, duas, três horas de interrupção. Após esse breve intervalo na vida o fluxo segue. O esquecimento é o destino do destroçamento que repete-se incessantemente pela

Amolador

Acordar é uma tarefa bem deplorável. A primeira vista é a janela. Fechada. Depois, banheiro, sala, cigarro. Tentar fazer algum esforço. A cabeça dói, de medo. O inferno começa outra vez. Enfrentar o universo cheio de seres que mostram os dentes ao falar rapidamente, sem nem disfarçar a intenção canibalística. A mente voa em pensamentos, num voo livre, suicida, não sabe onde vai parar. Mas tem que seguir a rotina. Mesmo com um turbilhão dentro do cérebro, fervendo, borbulhando, frenético, completamente assustado e acuado, capaz de fazer qualquer coisa. Um animal num ambiente incerto. Hostilidade é a única palavra que vem no pensamento, o resto é tudo fingimento. Os dentes aparecem de novo. A realidade mostrando seu verdadeiro propósito. Não há nenhuma compreensão, apenas trégua. Momento pra polir os caninos, deixando-os mais afiados. Enquanto isso, os molares vão remoendo. Combustível pro confronto. Tá tudo a ponto de explodir, à beira da merda. O que importa é a preparação. O resto é e

Escarro

O café desce queimando o esôfago e cai de repente no estômago frio. O tempo também está frio. Frio e úmido. Chuva caindo de leve, só serve para esfriar mais. O ventilador não tem mais uso, vai ficar encostado por um bom tempo. O silêncio é mais profundo do que normalmente (no calor), dá pra ouvir cada tosse e escarro. A sensação é de escarro mesmo, escarro da alma. Ela está ali, parada no tempo, quieta, esperando alguma coisa acontecer. Nada acontece e ela escarra, só pra limpar o ambiente, que não tem mais nada. Só pra fingir que ela existe. Afinal, é pra isso que serve o escarro, mesmo se a garganta estiver limpa, o som de limpá-la faz com que note-se um ser vivo em qualquer lugar ainda intocado pela conversação humana. E pode ocorrer um milagre, de esse escarro solitário proporcionar uma gosma sólida, meio verde, meio marrom, às vezes cinzenta. Uma gosma que pode ser interpretada como a existência física da alma.

Cerebrário

Preciso passar no banco. Preciso comprar salgado. Preciso encontrar a minha chave. Preciso ordenar o meu chaveiro. Preciso ordenar meu pensamento. Esqueci o que tava pensando. A realidade para até eu lembrar o que tava pensando. Não posso fazer nada até eu lembrar o que tava pensando. Não há possibilidade de vida até eu lembrar o que tava pensando. Vácuo. Inexistência. Limbo. Completa agonia causada por uma paralisação desoladora proveniente da falta de prazer, propósito. Apatia. Lembrei! Preciso pensar em alguma coisa. Vai resolver minha vida por cinco minutos. Depois…preciso lembrar o que tava pensando.

Hahaha!

Hahaha! Mais uma cerva virada. Hahaha! Tá muito engraçado! Filosofantes aparecem. Palavras voam no balcão. Tá tudo muito caro! O preço disso, daquilo. O torresmo é crocante! Os cachorros têm muitos direitos. Disco voador na serra. Seca geral! Hahaha! Quanta disposição! Cerveja virada, copo americano, o ápice da vida! Amendoim. A política internacional. O salário risível. A epidemia. Outro conflito extremo. Filme novo. Ladainha. Latido murmurante. Viu aquela inusitada missão espacial? E aquela teoria científica? O pão tá pesado no bolso. As mulheres falam mais porque têm mais lábios. O mendigo espirra. Um carro buzina na chuva. Asfalto molhado. Poça espelhante. Parou a chuva, saiu o sol. Shopping ao longe. Tardezinha vermelha de sangue. Nuvem sufocante. Luz acendendo. Ouvido ouvindo sem parar. Ovo boiando solitário no pote. Salsicha nadando na água verde. E aquela lá? Já escutou? Hahaha! Mais uma cerva virada.

Rabo das Delícias

Porra! Tô com o pau latejando! Tá tinindo! Duro que nem uma pedra! Acabei de ver um rabo maravilhoso na rua. A mina tava de calça branca apertadíssima e balangava aquele rabo pra lá e pra cá, ao sabor do vento. Usava uma blusinha azul com um decote que deixava os peitão transbordando pra fora. Puta merda, que delícia de gostosa! Fiquei olhando ela, no calçadão. Eu, sentado, pitando um cigarrinho, só vendo aquele rabo majestoso pairando sobre o mundo. Meu Deus do Céu! Minha Nossa Senhora! Tudo durou apenas uns trinta segundos, foi o tempo dela passar e balangar o rabo. Pra mim foi uma eternidade, no bom sentido. Minha alma enlevou-se e meu pau enrijeceu-se, num átimo! Foi a caridade divina de dar a nós, pobres mortais, um gostinho do Paraíso. Deus refestela-se no gozo proporcionado pelo rabão humano feminino. Tal rabo faz as carmelitas enrubescerem e os jesuítas chorarem. Rabo magnífico, unânime, indelével e magistral! Rabo onipresente, gracioso, guloso e imperioso. Rabo colossal, marav