Escarro



O café desce queimando o esôfago e cai de repente no estômago frio. O tempo também está frio. Frio e úmido. Chuva caindo de leve, só serve para esfriar mais. O ventilador não tem mais uso, vai ficar encostado por um bom tempo. O silêncio é mais profundo do que normalmente (no calor), dá pra ouvir cada tosse e escarro. A sensação é de escarro mesmo, escarro da alma. Ela está ali, parada no tempo, quieta, esperando alguma coisa acontecer. Nada acontece e ela escarra, só pra limpar o ambiente, que não tem mais nada. Só pra fingir que ela existe. Afinal, é pra isso que serve o escarro, mesmo se a garganta estiver limpa, o som de limpá-la faz com que note-se um ser vivo em qualquer lugar ainda intocado pela conversação humana. E pode ocorrer um milagre, de esse escarro solitário proporcionar uma gosma sólida, meio verde, meio marrom, às vezes cinzenta. Uma gosma que pode ser interpretada como a existência física da alma.

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