Postagens

Merdorato

O pastor da igreja de Manoel disse que ele precisava comprar aquele amendoim. Se ele não comprasse, Jesus iria difamá-lo aos Céus e chamaria o Diabo pra lhe enfiar o dedo no rabo. Manoel ficou tremendo de medo e afirmou ao Pastor Jonas que compraria o amendoim o mais rápido possível. O famigerado pastor deu um risinho e lambeu os beiços. Manoel agradeceu e despediu-se. Agora Manoel encontrava-se no metrô a loucamente vasculhar no seu celular. Procurava no Google, onde poderia obter o tal amendoim milagroso. VENDIDO EM TODOS OS SUPERMERCADOS, dizia o letreiro chamativo anunciado pelo Google e patrocinado por numerosos rostos de celebridades. Maravilha!, pensou Manoel. Iria entrar no primeiro supermercado no caminho de casa. Desceu do metrô e lembrou-se das palavras de Pastor Jonas: “Cura hemorroidas”, “Dá sensação de prazer”, “É levemente salgado e doce ao mesmo tempo”, “Um elixir contra a impotência!” Entrou no SuperMercado do Vovozinho e foi logo na prateleira dos aperit

Se o Toba Explodir, o Mundo Acaba

  O Toba explodiu. Há 75 mil anos. Quase acabou com a humanidade, dizem os especialistas. Sua erupção causou um estrondo que foi reverberado por todo o globo. Populações foram dizimadas, florestas foram devastadas, animais foram extinguidos, mares foram atormentados, continentes foram balançados, ilhas foram afundadas... Mas, mesmo assim, o homem prevaleceu. Restaram 10 mil pessoas. Elas treparam e se multiplicaram. O resultado somos nós. O supervulcão deu uma lição ao homo sapiens. Lição que ficou marcada na história. Na história da pré-história... É tão antiga que já esqueceram... A catástrofe sumária veio de Sumatra. A ilha agora comporta a placidez do Toba adormecido. Mas não por muito tempo, segundo alguns cientistas. O lago, que cobre o supervulcão, borbulha ferozmente, indicando alguma perturbação iminente. Talvez o Toba esteja incomodado com o tanto de gente que vive na Terra. Tanto esse proveniente do renascimento originado diretamente de sua ação. A humanidade colapsa

Se os insetos pensam, matar uma formiga seria um assassinato?

  Hoje eu descobri que os insetos pensam. Uma ideia muito ampla para refletir. O universo se multiplica infinitamente com esse conceito. Se os insetos pensam, matar uma formiga seria um assassinato? Se sim, somos assassinos desde a mais tenra infância. O mandamento “Não Matarás” ainda vale alguma coisa? Matar uma formiga por matar. Não pra comer, afinal, quem come formiga, ou barata, ou mosca? Assassinato sem motivo. Imagine quando dedetizamos a casa... Assassinato em massa, massacre, holocausto... A tal da vida é composta por inúmeros assassinatos, matanças e hecatombes. Se houver um julgamento pós-vida, todo mundo é culpado, ninguém vai pro céu... Até o mais pudico vegano já matou uma formiguinha na solidão de um quarto escuro. Todo mundo é culpado. Isso dá um nó no nosso cérebro e um gosto amargo na garganta. Ou todo mundo é culpado, ou ninguém é culpado. Ou há crime, ou não há crime. Não existe meio-termo. Isso meio que prova que a justiça é uma ilusão. A reparação pelo mal c

Quem Mexeu no Meu Saco?

Dois ratos, esquecidos pela humanidade, vagam pelos cantos sujos da cidade grande. À procura de uma pedra de crack ou, ao menos, uma dose de cachaça, andam desvairados, submersos num pânico constante; trêmulos, palpitantes, cambaleantes. A rua parece um labirinto, cheio de obstáculos mortais. De um lado, um policial, com um cassetete girando eternamente em busca de um crânio perdido. Do outro lado há mais viciados, ávidos por dinheiro fácil, com sangue fervente. A madrugada chega. As sirenes tocam. Fumaça de tiros. Barulho de gritos. Os dois ratos tentam achar um lugar pra dormir. O primeiro rato é mais otimista, acha que sairão dessa e encontrarão uma gigantesca pedra de crack, prontinha pra ser fumada. O segundo rato já é mais pessimista, pensa que a qualquer instante terá sua cabeça estourada por um guarda municipal espumando de ódio. Não há lugar seguro. Quase todos os locais estão ocupados por outros noias. Ruas e mais ruas, extremamente fétidas, permanentemente perigosas. Nada po

Acontecido na Roça

Só sei que João viu o disco voador. Tava na casa dele, lá em Mata-Touros, cidadezinha do interior mineiro. Morava num sítio, perto da fazenda do Seu Antonio, que não jogava conversa fora e era bem brabo. João tinha acabado de consertar uma cerca pra Seu Antonio (geralmente fazia pequenos serviços pro fazendeiro a troco de um trocado...). Pegou a enxada e o martelo, botou os instrumentos nas costas e começou a caminhar. Já era noitinha e João tava com uma fome danada, iria jantar aquele típico franguinho na panela que Dona Jocinda fazia tão bem. Ouviu seu estômago roncar alto. Lá pelo meio da andança, João ouviu um barulho que era tipo um zunido; parecia uma vespa tresloucada. Com medo de marimbondo, ele logo apertou o passo. Até que o zumbido ficou mais forte, estava bem próximo. O sitiante percebeu que o barulho não vinha dos lados, nem detrás e sim de cima. Olhou pro alto e viu um negócio que nunca tinha visto. Era uma coisa redonda e preta, que assemelhava-se a um pneu de caminhão g

A Morte do Punheteiro Viajante

  Ficava dias e mais dias em viagens intermináveis. Conheceu todo o país. E um pouco da América do Sul. Mas o que gostava mais era das cidadezinhas. Ernesto Gomes Magalhães Pinto era de uma rica família tradicional paulista, uma típica quatrocentona. Seu tataravô era fazendeiro, dono de imensas plantações de café. A família tinha mansão na Avenida Paulista, prédio no Rio e o caralho a quatro. Resumindo, a fortuna não acabava nunca. Acontece que, Ernesto era um vagabundo. Nunca quis cuidar dos negócios da família e nunca quis fazer nada da vida. Gostava mesmo era de gastar a gigantesca herança que possuía. Tinha um hábito particular muito peculiar. Não era só um hábito, na verdade comandava sua vida e era o objetivo de sua existência. Amava viajar. Em ônibus ou trens. Andava pelo país inteiro. Já tinha estado em todas as cidades do estado de SP. Até em pequenas vilas e lugarejos. Sentia uma excitação tão grande no ato de viajar, que não conseguia segurar-se, precisava aliviar su

Existencialidade

  Eu queria viver de baboseira. Escrever um monte de idiotices e ganhar salário. Num jornal ou periódico qualquer. Dizer bobagens instruídas ou pedantes mesmo. Tem de monte. Esses dias eu vi um colunista andando na rua. Ninguém sabia quem era, mas eu sabia. Tava meio disfarçado, com um boné e óculos de sol, mas eu o reconheci. Ele caminhava displicentemente, como se a vida fosse uma maravilha. Olhava ao redor, tudo lhe agradava. Agradecia a mulher que lhe vendia flores. Saiu com um buquê duma floricultura. Eu vi tudo isso. Vi tudo isso porque o segui. O segui desavergonhadamente, mas ele nem se deu conta, porque anda sem medo, confiante em sua vida segura e “plena”. Será que ele daria essas flores de presente? Que flores eram? Não conheço flores, não sei dizer. Eram amarelas. Só isso posso dizer. Deviam cheirar algo nesse sentido. O que cheira amarelo? Milho? Ouro? Mijo? Sei lá... e realmente não importa. Apenas divago. Mas não vago. Sigo. Seguir é uma ação direta. Uma ação pensa