Merdorato
O pastor da igreja de Manoel disse que ele precisava comprar aquele amendoim. Se ele não comprasse, Jesus iria difamá-lo aos Céus e chamaria o Diabo pra lhe enfiar o dedo no rabo.
Manoel ficou tremendo de medo e afirmou ao Pastor Jonas que
compraria o amendoim o mais rápido possível.
O famigerado pastor deu um risinho e lambeu os beiços.
Manoel agradeceu e despediu-se.
Agora Manoel encontrava-se no metrô a loucamente vasculhar
no seu celular. Procurava no Google, onde poderia obter o tal amendoim
milagroso.
VENDIDO EM TODOS OS SUPERMERCADOS, dizia o letreiro
chamativo anunciado pelo Google e patrocinado por numerosos rostos de
celebridades.
Maravilha!, pensou Manoel. Iria entrar no primeiro
supermercado no caminho de casa.
Desceu do metrô e lembrou-se das palavras de Pastor Jonas: “Cura
hemorroidas”, “Dá sensação de prazer”, “É levemente salgado e doce ao mesmo
tempo”, “Um elixir contra a impotência!”
Entrou no SuperMercado do Vovozinho e foi logo na prateleira
dos aperitivos. Centenas de pacotes de amendoim pululavam em sua vista. Era uma
beleza. MERDORATO, o amendoim que te faz gato! MERDORATO, o amendoim que te
deixa a jato! MERDORATO, o amendoim que cura até carrapato!
Comprou um pacote de 1 quilo e foi pra casa.
Chegou. Tomou banho. Fez algumas orações. Ligou a tv num
canal que transmitia um culto ao vivo. Fez um café. Pegou o pacote e despejou
uma porção de amendoim num pratinho de doce.
Catou um amendoim e o apertou com o indicador e o polegar. Era
bem duro. Sua cor era bege escuro. Tinha um cheiro levemente adocicado. Por
fim, abocanhou o pequeno alimento. Mordeu. O amendoim fragmentou-se dentro da
boca de Manoel. Sua língua foi inundada por uma sensação de gostosura. Era um
sabor que nunca havia sentido em toda a sua vida. Não conseguia descrever. Não
parecia nenhum outro amendoim que já tinha comido. Era inigualável.
Pegou mais uma mãozada e enfiou um monte de amendoins na
boca. Mastigou ferozmente. Soltou até um pum de felicidade. Sentia-se elevado.
Apaziguado. Erótico. Cósmico.
Pensou alegremente: O Pastor Jonas tinha razão. Ele sempre
tem razão. É um sábio.
Comeu um montão de amendoim, praticamente um terço do
pacote.
Satisfeito. Alegre. Aliviado. Ficou curioso e foi ver quais
eram os ingredientes. Pegou a embalagem e leu na parte de trás. INGREDIENTES:
FEZES DE RATO.
Sentiu uma náusea instantânea. Foi ao banheiro. Ajoelhou
diante o vaso e enfiou o dedo na goela. Vomitou um montão!
Estava indignado. Iria na igreja, no supermercado, na televisão!
Precisava reclamar. Clamar aos céus! Berraria profusamente babando de raiva e
metendo o dedo na cara do infame Pastor Jonas.
Iria pegar o seu trezoitão e explodiria os miolos do
pastorzinho de araque. Mas ficou calmo de repente. Do nada. Sentiu-se em paz.
Não sabia o que estava acontecendo.
Não havia vomitado toda a grande quantidade de amendoim
ingerida. Parecia, agora, que outro efeito acontecia dentro de seu corpo.
Uma sensação de primor e leveza o invadia. Manoel estava
pleno, iluminado.
Deitou-se na cama. Ficou olhando o teto, maravilhado. Ouviu
um musiquinha reconhecível, parecia de algum filme de amor.
Na porta do quarto apareceu um ser diferente. Era do tamanho
de uma pessoa. Tinha o corpo de um ser humano, mas era coberto de pelos. O ser
estava nu. Exibia mamas protuberantes e intumescidas. Uma vasta pelagem
recobria o púbis. A face era de um rato, ou duma rata...
O crente, ou agora amendocrente, Manoel, excitadíssimo, gritou: Vem!
A criatura foi.
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