Ventiladeus
Odeio narrador de futebol. Lembro, todos os dias, na infância. Aquele calor maldito! Hora do almoço. Na televisão passando os tediosos gols do final de semana. O narrador gritando "GOOOOOOOOOOLLLLLL, GOOOOOOOLLLLL, GOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLL!" em meu ouvido e a cabeça latejando, pensando, é segunda-feira, logo terei aula. Aula, a aula quente e abafada. Cheia de barulho e tempo interminável. O único conforto é o barulho do ventilador. Ventilador, guerreiro eterno e incansável, não para de girar e ir de um lado a outro, na histórica batalha contra o calor dos infernos. Desde sempre eu adoro ventilador. O seu ruído causa um conforto relaxante, uma segurança sobrenatural. Vivo de ventilador ligado, mesmo no frio. Durmo só com o som do ventilador, se não tiver, fico insone, à beira da loucura. O vento é a minha religião e o ventilador é o ídolo que emana a sabedoria do eterno ciclo.