Acontecido na Roça

Só sei que João viu o disco voador.

Tava na casa dele, lá em Mata-Touros, cidadezinha do interior mineiro. Morava num sítio, perto da fazenda do Seu Antonio, que não jogava conversa fora e era bem brabo.

João tinha acabado de consertar uma cerca pra Seu Antonio (geralmente fazia pequenos serviços pro fazendeiro a troco de um trocado...). Pegou a enxada e o martelo, botou os instrumentos nas costas e começou a caminhar. Já era noitinha e João tava com uma fome danada, iria jantar aquele típico franguinho na panela que Dona Jocinda fazia tão bem. Ouviu seu estômago roncar alto.

Lá pelo meio da andança, João ouviu um barulho que era tipo um zunido; parecia uma vespa tresloucada. Com medo de marimbondo, ele logo apertou o passo. Até que o zumbido ficou mais forte, estava bem próximo. O sitiante percebeu que o barulho não vinha dos lados, nem detrás e sim de cima. Olhou pro alto e viu um negócio que nunca tinha visto. Era uma coisa redonda e preta, que assemelhava-se a um pneu de caminhão gigante, mas não tinha buraco no meio. Era uma bola negra achatada, sólida e fosca. Era gigante, do tamanho de uma casa. Tava a uns 10 metros de altura, mais ou menos, e encontrava-se parada bem acima da cabeça de João.

Ele ficou paralisado, sem saber o que fazer. O terror atravessava-lhe as entranhas e a fome tornava-se dor de barriga. Suas pernas ficaram moles como maria-mole e ele caiu de bunda no gramado. O objeto continuava ali, sem fazer nada, apenas flutuava acima do pobre coitado. 

Depois de alguns segundos de inércia, João começou a pensar no que faria de imediato. Como saíria dessa. Iria morrer? Seria levado ao inferno? O que aconteceria? Não havia como saber, a situação era muito inusitada. Era uma acontecimento inédito e extraordinário. Por isso, decidiu olhar fixamente para cima e esperar sentado.

Não passou um minuto e o negócio começou a tremer e rodar freneticamente, como uma roda-gigante supersônica misturada com uma panela de pressão do além. Parecia que iria explodir a qualquer momento. O pânico tomou conta da mente e do coração de João. Até que... O objeto parou. Voltou a ficar imóvel. Plácido e inerte. João continuou observando. Então, do nada, o imenso bólido partiu numa velocidade inimáginavel e nunca mais foi avistado.

João levantou-se e foi comer o franguinho na panela de Dona Jocinda.


Isso aconteceu no longínquo ano de 1954. Depois de algum tempo, o sitiante contou o incidente num bar do vilarejo. Ninguém acreditou. Seus amigos diziam que a cachaça tinha fritado seus miolos. Deram gargalhadas e mais gargalhadas. Fizeram de João o palhaço da festa. 

João não levou na boa e sacou a peixeira que sempre levava consigo. 


- Quem que é o mentiroso aqui?!?! Quem?!?! Quem tem a coragem de me dizer?!?!


Então, com o sangue nas faces e a raiva nos dentes, João enterrou a peixeira no pescoço do Teixeira, que era quem mais tinha gargalhado. O sangue voou longe e atingiu o dono da venda bem na testa. Seu Joaquim enxergou tudo vermelho, já que o sangue do Teixeira lhe encobriu as vistas.

João berrrou: Ria, ria mais, seu filho de uma maldita égua! Ria, ria pra sempre, do lado do capeta!

Todos olhavam, paralisados e boquiabertos, do mesmo modo que o sitiante ficou no dia que ele viu o disco voador. 

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