Se os insetos pensam, matar uma formiga seria um assassinato?
Hoje eu descobri que os insetos pensam. Uma ideia muito
ampla para refletir. O universo se multiplica infinitamente com esse conceito.
Se os insetos pensam, matar uma formiga seria um assassinato? Se sim, somos
assassinos desde a mais tenra infância. O mandamento “Não Matarás” ainda vale
alguma coisa?
Matar uma formiga por matar. Não pra comer, afinal, quem
come formiga, ou barata, ou mosca? Assassinato sem motivo. Imagine quando
dedetizamos a casa... Assassinato em massa, massacre, holocausto...
A tal da vida é composta por inúmeros assassinatos, matanças
e hecatombes. Se houver um julgamento pós-vida, todo mundo é culpado, ninguém
vai pro céu... Até o mais pudico vegano já matou uma formiguinha na solidão de
um quarto escuro. Todo mundo é culpado.
Isso dá um nó no nosso cérebro e um gosto amargo na
garganta. Ou todo mundo é culpado, ou ninguém é culpado. Ou há crime, ou não há
crime. Não existe meio-termo. Isso meio que prova que a justiça é uma ilusão.
A reparação pelo mal cometido funciona da mesma maneira que uma droga dá prazer
momentâneo ao cérebro viciado. Da mesma forma, a não reparação causa a mesma
náusea que uma ameaça de morte no meio da noite.
Tudo seria instinto de sobrevivência? A moral, a ética,
servem como uma forma de proteção ao indivíduo diante da barbárie da vida em
sociedade. Porque vivemos em sociedade devemos dar uma satisfação quando alguém
leva a pior. Seria um gesto de educação, de polimento da fina pele social que
cobre a sangrenta carne que faz de todos nós humanos e animais.
Pra isso tem que se criar uma história justificativa. Um
conto sobrenatural e incrível. Uma causa fantástica pela qual vale a pena
acreditar e seguir normas. E se não seguir, há o castigo. Torturas brutais e
sofrimentos inenarráveis que duram muito tempo, se não, a eternidade.
Tudo isso vem funcionando (capengando) há milênios. Mas não
responde à minha pergunta:
Se os insetos pensam, matar uma formiga seria um
assassinato?
Não responde e ao não o fazer coloca em dúvida todos esses
conceitos, todas as ideologias humanas e todas as regras que nos fazem seguir.
Tira o valor de toda justificativa moral. Porque, ao termos esse raciocínio,
facilmente chegamos à conclusão que a ideia de crime é apenas uma invenção, uma
mentira. O crime seria somente uma transgressão da ordem presente. Ordem dada
pela força, pelo poder. A moral e a ética vigentes seriam as guardiãs do poder.
Elas mudam conforme os tempos. Adaptam-se à eterna e cíclica corrente do poder.
O “crime” é uma quebra dessa corrente.
E ainda não há resposta para a pergunta “Se os insetos
pensam, matar uma formiga seria um assassinato?”
Não sei, só sei que já matei formiga e não gostei.
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