Amolador



Acordar é uma tarefa bem deplorável. A primeira vista é a janela. Fechada. Depois, banheiro, sala, cigarro. Tentar fazer algum esforço. A cabeça dói, de medo. O inferno começa outra vez. Enfrentar o universo cheio de seres que mostram os dentes ao falar rapidamente, sem nem disfarçar a intenção canibalística. A mente voa em pensamentos, num voo livre, suicida, não sabe onde vai parar. Mas tem que seguir a rotina. Mesmo com um turbilhão dentro do cérebro, fervendo, borbulhando, frenético, completamente assustado e acuado, capaz de fazer qualquer coisa. Um animal num ambiente incerto. Hostilidade é a única palavra que vem no pensamento, o resto é tudo fingimento. Os dentes aparecem de novo. A realidade mostrando seu verdadeiro propósito. Não há nenhuma compreensão, apenas trégua. Momento pra polir os caninos, deixando-os mais afiados. Enquanto isso, os molares vão remoendo. Combustível pro confronto. Tá tudo a ponto de explodir, à beira da merda. O que importa é a preparação. O resto é enrolação. Quem tem o melhor amolador leva o prêmio. O prêmio, não sei qual é, um minuto a mais talvez…

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