Destroçamento



Só vejo gente destroçada. Parece que o mundo é só isso. Tenho medo de andar na rua. Tenho medo de tudo. Se eu escorregar no banheiro, posso me destroçar. O destroçamento da minha mente efetiva-se gradualmente. Minha cabeça é feita de pedaço de gente. Já não fico mais tão chocado quanto ficava. Os destroços tornaram-se parte do dia a dia. Antigamente eu ficava com uma imagem na cabeça por dias a fio. Agora posso ver fotos, assistir vídeos, já não faz diferença. Quero aprender a insensibilidade e isso faz parte do meu treinamento. Parece que há uma verdade nisso. Uma verdade maior do que qualquer ensinamento religioso ou filosófico. O que resta é carne, sangue. Depois, osso. Tudo vira terra e a gente pisa em cima de tudo sem se dar conta. O choque é momentâneo, instantes depois tudo volta à rotina. O acidente para o tráfego. Uma, duas, três horas de interrupção. Após esse breve intervalo na vida o fluxo segue. O esquecimento é o destino do destroçamento que repete-se incessantemente pelas rotações e translações infindáveis.

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