A Teta da Panceta



Passou a noite acordado. Já era umas oito da manhã quando pensou no que comer pro café. Desceu no supermercado. Pegou uns pães, mussarela. Foi pra parte das carnes. Linguiça, presunto, bife… não. Pedia outra coisa. Viu uma panceta, brilhando como o ouro das minas do Rei Salomão. Tava muito bonita. Pegou. Chegou em casa, tirou os pães do saco, o queijo do papel e foi desembalar a panceta. O que?! Não tinha visto antes, foi só virá-la e do outro lado viu uma coisa que o surpreendeu. Tinha uma teta! Uma teta na panceta! Uma tetinha pequenina, mas uma teta mesmo. Caraio, uma mama na panceta! OK, vamo botá na frigideira e vê no que é que dá! Fritou a pancetinha tetuda, tacou queijo em cima, colocou no pão e foi comer na frente da televisão. Tava bom pra caraio, gorduroso que nem o inferno! Gotinhas de óleo pingavam pela barba por fazer de nosso herói glutão. Comeu três sanduíches, o último foi o da teta. Era meio borrachenta, mas nada de extraordinário. O gosto era normal e procurou encarar a protuberância, incomum em tal peça, como os pelos que sempre encontrava nessa iguaria deliciosa do porco. Comeu bem e tudo. Uns quinze minutos depois, no meio do programa da Ana Maria Braga, começou a sentir uma queimação e umas dores desconfortáveis. Precisava cagar urgente! Foi correndo pra privada e soltou um jato que inundou a piscininha sagrada e deixou umas borrifadas nas beiradas do vaso. Aliviou-se. Achava que tudo tinha acabado, mas estava enganado. Uma nova onda de tremor fecal formou-se em suas entranhas. Parecia um terremoto, que logo iria tornar-se um maremoto marrom e melado. Mas, não foi bem assim. Os tremores continuaram, sua barriga ganhava vitalidade além da conta. Todo o seu avantajado abdômen balançava que nem uma maria-mole ao ritmo da lambada. Preparou-se para a segunda rajada e não imaginou o que estava por vir. Veio a onda de merda, mas não era uma merda comum. Uma torrente esbranquiçada e leitosa jorrou do seu cu assustado. Encheu o trono até a borda. O sujeito virou-se e observou sua obra máxima com repugnância e fascínio mútuos. Parecia um caldeirão de canjica, mas sem canjica e só com o caldo duma cor que variava entre o tom de leite e o de chocolate, uma espécie de doce-de-leite fétido e borbulhante. E borbulhava mesmo; bolhinhas cresciam e estouravam espalhando micro-gotas pegajosas pelo banheiro inteiro e por toda a cara de nosso herói atônito. Continuou olhando, com a boca aberta, o espetáculo que apresentava-se diante do seu nariz, que nem sentia mais cheiro, tamanha a monstruosidade do fedor que preencheu o ambiente, quente e vaporizado. O espelho do armário da pia estava completamente embaçado, refletindo um esboço granulado e enfumaçado da porta do banheiro fechado. No lago leitoso, nosso amigo identificou alguns movimentos, movimentos ondulatórios que, aos poucos, formavam uma imagem. Espantado, o sujeito olha com atenção a forma que se revela diante de sua retina aterrorizada e meio melada de merda. Movimentos circulares criam um redemoinho que logo transforma-se num rosto, um rosto diferente. Tem olhos, sim, boca, sim e uma fuça, sim. É uma face… uma face suína, que ri e manda beijinhos alegres no meio do turbilhão lácteo que inundava a privada, numa enchente digna de filme catástrofe. O cara não acreditava no que via, sentia, cheirava! Por quê?! Deus?! O que será?! É a teta, só pode ter sido a teta! Foi ela, ela sim; de alguma forma soltou o seu leite materno e fermentou meu estômago, causando uma revolução intestinal que transformou-se num monstro, num demônio que veio aninhar-se no meu vaso sanitário! E neste momento de reflexão e fúria, o rosto da privada confirmou a epifania de nosso herói esmerdeado, numa voz tão poderosa quanto gutural e cadavérica: “Sim, vim do leite e ao leite retornarei. Mas antes tu deves anunciar à humanidade que a salvação encontra-se aqui. Nunca dê descarga!” E assim nosso amigo recebeu a mensagem divina e ficou paralisado no centro do banheiro, até que a voz levantou-se novamente e proferiu esta ordem: “Vai meu filho, sai pelo mundo e conta a tua revelação aos teus semelhantes. Faz deste lugar um templo, traz aqui os crédulos, os fiéis, os bravos de espírito.” E ele foi, e esta é a história que começou tudo.

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