Cachorro-Quente



Duas salsichas excessivamente lambuzadas pelo mix de ketchup, mostarda e maionese que formava uma aglutinação perfeitamente rosada. O pão era comprido, em formato de submarino, charutão ou zepelim. Era macio. Estava fresco. Despejaram umas batatas palha por cima da encomenda. Tacaram purê também, pra dar o gostinho de feito-em-casa. Só não puseram molho de tomate, pois já tinha o mix-rosê que dava pra encher o cu de um cabrito. Tava pronto! Arnaldinho foi, feliz, pegar a sua encomenda. A atendente embrulhou o cachorrão e o colocou numa bonita sacola de plástico. Foi entregue ao cliente assíduo e carismático. Na volta pra casa, Arnaldinho percebeu que alguma coisa não estava certa com seu lanchão. Alguma coisa atrapalhava a normalidade de um dia banal que acabaria em janta, bronha e sono. O pacote dava pequenas tremedinhas. O rapaz achou estranho. Caminhava apertando levemente o pacote em sua mão esquerda e sentia os tremorinhos que não cessavam de jeito nenhum. A sensação era a de se estar apertando uma barriga vermenta, em que inúmeras lombrigas fominosas estivessem causando um furdúncio esculhambado por uma dança pecaminosa. Abriu o pacote. Não poderia ficar mais assustado ante a visão de terror que teve em seguida: o imenso cachorro-quente havia ganhado vida e sacudia-se em seus dedos. Uma horrenda transformação acontecera! O pão tinha um aspecto de pele de porco, com pelos e algumas escamas que soltavam-se ao chacoalhar. Na abertura horizontal, onde ficava o antigo recheio, uma espécie de dentição havia se formado. Eram uns poucos dentinhos, separados por alguns centímetros, que assemelhavam-se a grãos de milho gosmentos. O mix tinha virado um creme sanguinolento meio coagulado, plasmático. O purê era algo como disenteria. As batatas palha agora eram infinitos verminhos amarelados que arrastavam-se freneticamente de um lado para o outro. As duas salsichas metamorfosearam-se em dois longos pênis humanos, veiudos e vermelhos que saltitavam numa fúria enlouquecida. Eles eram dois corpos com vida própria. Não eram membros de um organismo maior, eram pênis com identidades próprias. Consistiam em cabeças penianas nas extremidades superiores e as extremidades inferiores acabavam num conjunto de perninhas que agitavam-se epileticamente. Não havia saco. Os dentinhos mordiscavam debilmente os dois caralhos, provocando ondas de prazer nas falsas salsichas. Tremiam espasmodicamente e saía mais molho rosê de suas cabeças ensandecidas. Pálido e pasmo, Arnaldinho soltou o cachorro-quente mutante, que caiu na calçada causando um estrondo e acordando um mendigo que dormia num banco ali perto. O rapaz saiu correndo. O mendigo aproveitou o ocorrido para apropriar-se do lanche abandonado. Nem ligou para o fato de o cachorro-quente ter vida, feder merda, ser meio esquisito, ter dois caralhos como recheio, dentes e uma infinidade de vermes. Comeu em três mordidas.

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