Nervos à Flor do Rabo



Josualdo está nervoso. Não existe um dia em que ele não esteja nervoso. Todos os dias ele está nervoso. O dia todo, nervoso. A vida é feita de nervosismo. Ele anda nervoso, come nervoso, pensa nervoso, caga nervoso, trepa nervoso, respira nervoso. Sua rotina é feita de nervos embramados, confusos, desgastados… nervosos. Não existe paz alguma. É uma ilusão. O nervo é poderoso. Pode criar e destruir. Foi dormir pensando nos seus nervos. Sonhou com um nervo gigante que engolia uma cidade inteira. A cidade caía num estômago imenso e tomado por uma azia catastrófica. A multidão nadava e derretia lentamente no oceano de ácido clorídrico. Depois, tudo virava merda. Acordou molhado e nervoso. Foi mijar e errou a privada. Acertou o tapete do chão do banheiro. Chorou de raiva. Ia ter que lavar aquela merda de mijo. Saiu do banheiro. Desceu as escadas internas do seu sobrado espaçoso e requintado à moda antiga. Foi tomar o café da manhã. Fez café. Seus nervos estavam em migalhas. Sua vista, meio embaraçada. Seu estômago rugia. Teve fortes dores anais. Suas hemorroidas atacavam de novo, agora com uma fúria de leão. Era como se dezenas de ratos famintos estivessem mordiscando o seu ânus e arranhando as paredes do seu reto. O esfíncter queimava. Sentou na cadeira dura. Sentiu como se uma bomba tivesse acabado explodir no seu cu. Parecia uma guerra. Litros e litros de napalm sendo despejados no seu rabo. Isso deixava ele mais nervoso. O dia iria começar pelo avesso. Com uma dor irrefreável, ele pegou a xícara e virou o café de uma golada só. Aquilo caiu feito lava quente em seu estômago sofrido. Catou a torrada, passou margarina, lambeu as extremidades meladas. Comeu. Agora, nada. Parece que seu estômago pediu uma trégua. Deu uma risadinha e sorriu nervosamente, pensando em como a vida mudava de posição de segundo a segundo. Isso lhe dava alguma esperança.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Portais de Notícias

Fluição Desbaratada

A Morte do Punheteiro Viajante