Sobre Praia

Faz 18 anos que não vou à praia. A última vez foi em 2007. É engraçado que isso simplesmente sumiu da minha vida. Nem penso em praia, mar, isso parece tema de ficção.

Não sinto falta. O calor se cura com um bom ventilador e muita água. Não precisa de praia. Aliás, na praia se passa calor, se torra no sol. Após um banho de mar, é só secar que, 5 minutos depois, já voltou o calor, o bafo infernal.

Aí tem que dar um mergulho de novo, toda hora, de modo que o efeito refrescante vai se perdendo, nem adianta mais, e a gente vai virando um ser impermeável...

Por isso a praia não importa mais. É uma efemeridade. As pessoas dão muito valor às efemeridades. Pra quê viajar por várias horas em estradas lotadas, debaixo de um sol escaldante ou de uma chuva torrencial? Chegar num lugar cheio de areia e ficar enchendo a cara de cerveja, sentado numa cadeira de plástico, comendo petiscos que podiam ser de plástico... 

Passar um dia inteiro assim, sem propósito. E daqui a pouco escurece, aí você vai jantar num lugar ruim e come uma pizza asquerosa. Dorme e tem muitos pesadelos. Quando consegue dormir, porque o calor é tanto e o ventilador só balança e num venta e você já num guenta...

Aí você acorda e vai comprar pão na padaria, que tá cheia e tem uma fila quilométrica e você fica suando que nem um porco prestes a ser abatido. E é uma gritaria. Do seu lado tem uma velha que fica bufando no seu ouvido e do outro lado tem um moleque que fica correndo e pulando na padaria inteira. E a fila não anda. E quando chega na caixa, ela já tá brava e praticamente te obriga a pagar pelo pão murcho e cascudo.

Você sai da padaria como se tivesse saído de uma batalha campal da Primeira Guerra Mundial, só faltou o gás mostarda, mas não faltou o gás intestinal, porque algum lazarento soltou um peido dentro da padaria.

Aí, na casa alugada, você come o pão chocho e repete aquela mesma piada que é contada em todo encontro de parentes. E você já não vê a hora de ir embora. 

Aí você vai pra praia e fica torrando, mergulhando e bebendo cerveja até a hora do almoço. Aí você almoça no quilo, que é bem ruim e bem caro. Aí você tem dor de barriga e enche a privada da casa de veraneio. E o bafo úmido fecal sobe e mistura-se ao bafo úmido praiano e isso resume toda a viagem.

Ainda bem que eu não vou à praia há 18 anos. 

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