Merdorato

Faz 18 anos que não vou à praia. A última vez foi em 2007. É engraçado que isso simplesmente sumiu da minha vida. Nem penso em praia, mar, isso parece tema de ficção. Não sinto falta. O calor se cura com um bom ventilador e muita água. Não precisa de praia. Aliás, na praia se passa calor, se torra no sol. Após um banho de mar, é só secar que, 5 minutos depois, já voltou o calor, o bafo infernal. Aí tem que dar um mergulho de novo, toda hora, de modo que o efeito refrescante vai se perdendo, nem adianta mais, e a gente vai virando um ser impermeável... Por isso a praia não importa mais. É uma efemeridade. As pessoas dão muito valor às efemeridades. Pra quê viajar por várias horas em estradas lotadas, debaixo de um sol escaldante ou de uma chuva torrencial? Chegar num lugar cheio de areia e ficar enchendo a cara de cerveja, sentado numa cadeira de plástico, comendo petiscos que podiam ser de plástico...  Passar um dia inteiro assim, sem propósito. E daqui a pouco escurece, aí você va...

o doido tem medo da vassoura medo de ser varrido, doido varrido varrido da sociedade, da seriedade varrido com toda a violência imposta por um jeito de ser, um código varrido da vida, da humanidade, da piedade varrido de tudo, solto no espaço, sem chão, eira nem beira varrido da honra, da dignidade varrido da voz, da individualidade varrido da casa, do trabalho varrido do dia a dia, da conversa varrido do normal, da rotina varrido do seguro, do saudável o doido tem medo de ser varrido mas ele já foi varrido  e ninguém se importa ninguém reconhece ninguém vê nada

Os ostrogodos faziam parte dos godos mas não eram visigodos. Os godos tinham gados gordos. Já os ostrogodos caracterizavam-se pelo cultivo das ostras e pelo seu famoso ensopado, o ostrogonofe.  O rei dos ostrogodos era o Teodorico, muito rico. Os visigodos pareciam godos, mas era só no visual. Eles adoravam fazer visitas, o que irritava os ostrogodos. Godofredo era godo, mas era amigo dos ostrogodos e dos visigodos. Um dia, ele visitou os ostrogodos, achando que eram os visigodos. Os ostrogodos não gostaram e expulsaram Godofredo, condenando-o ao ostracismo. Os godos intervieram. Acharam uma injustiça, já que Godofredo era godo e muito amigo dos visigodos e dos próprios ostrogodos, por isso não merecia tal engodo. Então... a verdade é que é melhor acabar este texto, pois já tá muito estragado.

O dono da fábrica de caminhões quer vender. Produz os aparatos mais indefectíveis na hora de acelerar, carregar, transportar e correr.  As vendas serão ótimas. A vida do dono, cada vez melhor. A máquina cumpre seu trabalho. Corre a extremas velocidades e entrega as cargas pesadíssimas em tempo recorde. O motorista raramente dorme e quase nunca desacelera. As estradas vão se quebrando, esfarelando; e o monstro metálico continua seu caminho interminável. O lucro é imenso. Os patrões estão cada vez mais ricos e insaciáveis. A razão é a mercadoria. Ao mesmo tempo seres imperturbados e, na medida do possível, inocentes, trafegam maquininhas (comparando) em seu trajeto. Duas linhas se cruzam. O som é tonitruante. O gigante aniquila o pequeno. Nenhum dano na maquinona, condutor intacto. Todo dano do mundo na maquininha, seres vivos apagados, dizimados. Não sobra nada daquilo que entrou no caminho da ganância. Ela passa, incólume, de fato fortalecida. Enquanto, vidas literalmente despedaça...