Cu do Saco
Não há nada de novo. O tédio domina a existência enquanto o
mundo pulsa e treme. Ao redor de tudo há uma aura de mesmice, é assim que
Aurélio enxerga o cotidiano.
Ele pensa nisso o tempo todo. O sistema é feito pra esmagar
os homens com a pesada roda do enfado. Ela, que dá voltas e voltas completando
eternamente o círculo monótono que vai do átomo ao buraco negro.
Estranho ciclo esse que desilude o ser humano e o envia
direto ao moedor de carne. Haverá algo suspeito por trás disso? Uma trama secreta?
Seres intergalácticos? Forças misteriosas que controlam a vontade de Aurélio?
Enquanto matuta, ele caminha pela larga calçada da avenida.
Já tem meia hora de caminhada, passou muito rápido, como um borrão em forma de
pensamento. Ao mesmo tempo que reflete, esquece-se do que pensou cinco minutos
antes, isso se dá pela velocidade supersônica de seus devaneios. Quando a mente
está inquieta, nem percebemos o tempo que passa batido.
Andou e andou até que chegou a um cul-de-sac. Cu de saco,
riu internamente Aurélio e viu como a vida é um infinito cul-de-sac (ou cu do
saco mesmo): anda, anda, dá voltas e retorna ao mesmo lugar.
Ao passar pelo imenso círculo, Aurélio gritava raivosamente “Cul-de-sac!
Cul-de-sac! A vida é um cu do saco! Um saco do cu! Um cu enfiado num saco ou
vice-versa!” Os carros passavam, um ou outro buzinava enquanto Aurélio corria e
berrava, dando voltas no cul-de-sac.
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